CPMF, de Novo?
Jornal O Estado do Maranhão
O governo  planeja desferir, com a ressurreição da falecida CPMF, a ser apelidada de  Contribuição Social Para a Saúde (CSS), seu recorrente ataque tributário ao  bolso de quem já carrega uma das maiores ou talvez a maior carga tributária do  mundo, o contribuinte brasileiro. Mortinha da silva, ela foi mandada aos  "lugares pálidos, duros, nus", de que fala Adriano, no livro de Marguerite  Yourcenar. O voraz sistema tributário brasileiro já nos assalta em quatro meses  dos doze de trabalho anual. Ainda acha isso pouco o governo e ainda trama,  montado na costa do contribuinte, aumentar o butim.
E para que  precisa de tanto dinheiro? Para implantar uma administração pública eficiente  que devolva ao cidadão sob a forma de bons serviços tudo dele extraído sob a  forma de tributos; expandir e melhorar a sucateada malha rodoviária nacional;  implantar uma rede de ferrovias decente, capaz de permitir o barateamento do  transporte de cargas no Brasil, o aumento da competitividade dos produtos  brasileiro nos mercados externos e da produtividade da economia; melhorar a  qualidade do ensino e, portanto, da mão de obra do país; investir em pesquisas  que nos levem à vanguarda do progresso científico e tecnológico, condição  essencial, como se vê pelo exemplo dos Estados Unidos e outros países  desenvolvidos, a um crescimento consistente no longo prazo, quando todos já  estaremos mortos, como dizia Keynes, mas não, acrescento, nossos filhos e netos;  investir em segurança junto com os Estados, limpando-nos da mancha de sermos um  dos países com o maior índice de assassinatos de jovens no  mundo?
Será por tudo  isso que as autoridades se empenham tanto em colocar mais dinheiro nas burras  governamentais já transbordantes, desestimulando, com extorsões dessa natureza  contra a sociedade, o esforço individual do cidadão e a ética do trabalho  honesto e estimulando a utilização do atalho desesperado com o fim de escapar  desse furor arrecadador?
O argumento é  antigo e frágil. Diz o ministro da Saúde, refletindo, é óbvio, posição do  Presidente da República: "Eu estou condenado a lutar por mais recursos para a  saúde pública. Saúde não se compra, não. Foi um direito duramente conquistado e  nós temos o direito de defender o aperfeiçoamento do SUS". Esse tipo de  argumento se ouviu quando a CPMF, que tinha a palavra provisória no seu nome,  foi criada em 1996. Pois ela foi provisória durante mais de uma década, servindo  para tapar buracos de todo tipo no orçamento federal, quase nenhum na área da  saúde. É o nefasto jeitinho brasileiro. O tributo proposto agora com outro nome,  desta vez pelo menos, não é mistificador, pois foi logo declarado permanente por  seus proponentes, embora não contenha a palavra em sua  denominação.
Se recursos  adicionais são tão importantes, como de fato são, por que então o governo não  alivia a pena do ministro condenado, destinando mais fundos para o setor, em vez  de promover constantes elevações do custeio da administração federal, com um  olho nas eleições e o outro nas pesquisas de opinião? E o promove contando, no  lado da receita, com o possível crescimento da economia, mera expectativa a ser  confirmada ou não. Mas, sempre resta o fato inescapável de a maioria dos itens  desse custeio representar aumentos que se manterão nos exercícios seguintes.  Eles passarão a vigorar agora e nos próximos anos e décadas, sempre na esperança  de que recursos para sua cobertura sejam obtidos com aumentos vindouros de  receita, puramente teóricos e acima do que as oscilações econômicas permitem  esperar.
Não há como  evitar. Gastos continuados acima das próprias posses levam, mais cedo do que  tarde, à bancarrota. O sujeito acaba em cadastro de maus pagadores. No caso de  um país, a bancarrota é chamada inflação, que é filha do populismo e de sua  maligna conselheira, a economia de vudu, cujas más consequências a minha  geração, mas não as mais novas, conheceu. Escapar de uma armadilha como essa no  futuro custa muito mais do que os custos políticos e financeiros de se agir com  responsabilidade no presente.


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