13 de dezembro de 2009

Cores, Cheiros e Texturas



Jornal O Estado do Maranhão, 13/12/2009

O Natal está aí e com ele a temporada de compras mais longa e intensa do ano. Os entendidos em finanças recomendam ao consumidor nesta época um comportamento praticamente impossível de ser adotado: não consumir o dinheiro extra do décimo terceiro salário e pagar dívidas antigas. É contra a natureza humana, se houver mesmo tal coisa.
Mas, o tempo é do Bom Velhinho, que de uns anos para cá anda soltando um ho, ho, ho meio ridículo, no estilo do Papai Noel americano (tenho certeza da existência de um Papai Noel em cada país, conhecedor das peculiaridades de suas crianças). Diferentemente do nosso, ele viaja em trenó puxado por renas em meio a muito frio e neve. O gritinho deve servir de ajuda no enfrentamento do mau tempo. De qualquer modo, ele não deixa de ser um sujeito muito simpático que habitou minha imaginação infantil e ainda hoje me dá a sensação de que o altruísmo existe e não é apenas um disfarce do egoísmo em sua permanente luta pela preservação da espécie.
E por falar em preservação da espécie, acabo de saber que o comportamento de homens e mulheres quando vão às compras é semelhante ao da tribo humana em eras primitivas, quando os machos arrastavam as fêmeas pelos cabelos, pelo menos na visão dos cartunistas. Conclusão com base na evolução das espécies pela seleção natural, princípio descoberto por Charles Darwin e uma das maiores sacadas na história do pensamento humano. Com o passar do tempo, aumenta seu poder explicativo e mais sólidos se tornam seus fundamentos, na mesma proporção em que novos achados paleontológicos o confirmam e se somam à já volumosa massa de evidências a seu favor. Não há nada alternativo no horizonte capaz de competir com o darwinismo. A explicação religiosa é outra história.
Perguntarão os leitores: qual, afinal, a relação entre compras e esse princípio? Segundo o serviço noticioso do site da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, os estilos masculino e feminino de fazer compras estão nos genes e é melhor dar uma olhada na evolução para achar a razão. "De uma perspective evolucionária, tudo se resume às habilidades que as mulheres usavam na coleta de vegetais comestíveis e os homens na obtenção de carne". Estudo publicado na Revista de Psicologia Social, Evolucionária e Cultural, feito pelo professor Daniel Kruger, pesquisador da Escola de Saúde Pública daquela universidade, examinou o jeito de fazer compras de homens e mulheres no quadro da psicologia evolucionária com o fim de entender as diferenças de comportamento dos dois grupos.
Por que, afinal, tantas mulheres adoram passar horas examinando as roupas das prateleiras das lojas com as amigas enquanto os homens acham tudo uma chatice e não vêem a hora de dar o fora? A explicação, depois de achada, parece simples, um ovo de Colombo. As mulheres nas sociedades primitivas sempre voltavam às trilhas anteriormente identificadas como capazes de oferecer bons resultados em termos de coletas de frutas e vegetais. Elas tinham de ser especialmente habilidosas nessa tarefa, pois deviam escolher alimentos com as cores, cheiros e texturas certos, a fim de evitar os venenosos. E é isso que fazem ainda hoje. O pesquisador observou que elas estão o tempo todo avaliando exatamente essas características dos produtos a serem adquiridos, operação demorada.
Os homens, em contraste, tinham quase sempre um objetivo mais específico. Eles queriam chegar, conseguir a carne, fonte de proteína crítica à sobrevivência do grupo, muitas vezes em lutas com predadores de outras espécies, e se retirar tão rapidamente quanto possível, sem ninguém para atrapalhar, as crianças, por exemplo, que ficavam sempre na companhia das mulheres. Mais uma vez, ainda hoje eles fazem algo semelhante.
Portanto, se você faz parte da metade masculina da humanidade, quando sua mulher disser que vocês dois vão demorar só um pouquinho no shopping, não se irrite se ela, depois de horas de entra e sai em lojas, perguntar: Demorei? Ela estava apenas testando com muito cuidado as cores, cheiros e texturas de bolsas, vestidos e sapatos.

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