2 de setembro de 2007

Os quarenta

Jornal O Estado do Maranhão
O Supremo Tribunal Federal – STF, com a decisão de aceitar denúncia pelo Ministério Público Federal de dezenas de mensaleiros de partidos da base de apoio ao governo em Brasília, acaba de tornar mais evidente ainda, como se já não o fosse bastante, antiga e pertinaz conspiração das elites brancas e más contra o povo e seus dignos e até indignos representantes, estes por descuido. Só pode ser essa a explicação para a aceitação unânime pelos membros do STF, depois de cinco dias e 32 horas de sessão, da maioria dos itens individualizados da peça denunciatória (não sei se essa palavra pertence ao campo do empolado jargão dos chamados operadores do direito, mas, vá lá, assim seja, permaneça a palavra denunciatória) do procurador-geral da República, baseada em esforço de análise que lhe tomou muitos meses de trabalho.
Os bem remunerados advogados da turma disseram não haver provas na denúncia contra seus clientes (clientes no bom sentido, é claro), a ponto de torná-la inepta (sem os requisitos legais, contraditória, obscura, em conflito com a letra da lei, segundo o Aurélio, dicionário a que se tem de recorrer com freqüência, junto com os de latim, quando a lei e a justiça são temas de debate), embora não pensem assim os juízes. Ao contrário, vislumbraram a existência de fortes indícios de malfeitos, que lembram em alguns pontos a inepta Operação Uruguai da época do processo de impeachment de Fernando Collor, expulso do cargo de presidente, mas hoje senador pela vontade do sábio povo de seu Estado, Alagoas, o mesmo do preguento, resistente, renitente e indiferente presidente do Senado, Renan Calheiros, sujeito hábil em quebrar galhos, como seguro para futuros problemas dele com as generosas leis pátrias.
Mas, eles, os causídicos ou defensores de causas nobres, ou não, jamais disseram que não havia crime, apenas afirmaram a ausência de provas provadas, como por exemplo, recibos em que o acusado declarasse o recebimento de tais e tais quantias a título de mensalão para apoiar os projetos do governo na Câmara dos Deputados; ou afirmasse o envio de dinheiro de forma ilegal a paraísos fiscais em algum país-ilha de mares muitas vezes navegados, tudo com firma reconhecida em cartório de fé.
Objetará uma bem intencionada e imparcial observadora da cena política nacional com a impossibilidade da existência de conspiração das elites brancas e más porque justamente o relator da denúncia é um negro, ministro Joaquim Barbosa, doutor pela Universidade de Paris II, professor no Instituto de Direitos Humanos da Faculdade de Direito da conceituada Universidade de Columbia, uma das dez melhores dos Estados Unidos, ex-oficial de chancelaria do Ministério das Relações Exteriores, tendo serviço em Helsinki, na Finlândia, país de gente branca. Ele, observe-se, manteve a elegância durante o tempo todo das sessões, embora com problema de saúde típico das elites, dores na coluna, segundo informações da imprensa, instituição que também conspira sem descanso contra os interesses populares, o que bem dá respaldo a velho e querido projeto do PT de regulamentação do exercício da profissão de jornalista com o fim de “coibir excessos”, como os praticados a toda hora por aí, sempre em prejuízo dos homens do governo, pobres vítimas. Mas, como se vê da amostra do currículo do ministro-relator ele foi cooptado pela conspiradora elite branca e má brasileira, passando a fazer parte da trama antipopular e antinacional, à qual atraiu seus companheiros do STF.
No fim, porém, fica-se com a desagradável sensação de que algo faltou no julgamento dos companheiros de mensalão do PT e dos partidos coniventes. Se existem rastros da existência de quarenta ladrões, onde estará o facinoroso Ali Babá desses tão fabulosos acontecimentos?

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