11 de março de 2007

Tempo quente

Jornal O Estado do Maranhão

O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, IPCC, criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial (WMO) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) fez um relatório em 2001 acerca do clima da Terra. Nele advertiu que a contribuição humana para o aquecimento global era “provável”, ante o ceticismo de muitos dispostos a classificar o aviso como alarmista. No início de fevereiro de 2007, o IPCC, após reunir 600 especialistas de 40 países, fez novo alerta, mais enfático, dizendo que a responsabilidade humana é “muito provável” e “inequívoca” no agravamento da situação. Traduzido da linguagem diplomática usada em documentos como esse, obrigado a levar em conta os interesses dos países participantes da organização, isso quer dizer que há uma probabilidade de mais de 90% de a afirmação do painel estar correta, levando-nos a afastar a hipótese de o aquecimento ser tão-só o resultado de fenômenos naturais, que evidentemente não podem ser descartados inteiramente como causa, pequena embora, de parte das mudanças climáticas em curso. As conclusões do estudo do IPCC mostram a necessidade de ação imediata pelos governos em conjunto e em escala mundial. Ações humanas, de fato, são causadoras do problema, pois provocam a emissão de metano, óxido nitroso e CO2, gases que são subprodutos de atividades econômicas, inclusive a agropecuária, que muitas vezes está associada ao desmatamento por queima das florestas. Lançados na atmosfera, onde se acumulam, eles têm a propriedade de transformar nosso planeta numa imensa estufa, porque impedem o excesso de calor de deixar a Terra. São os conhecidos gases-estufa. Grande parcela da dificuldade de lidar com o ambiente está em duas características do setor, não exclusivas dele, no entanto. Uma é a grande defasagem temporal entre determinados procedimentos e a percepção sobre seus efeitos sobre o ambiente, capazes de provocar impactos negativos em cadeia, inclusive nos responsáveis individuais pelo início do processo, que só então percebem, ou admitem perceber, a conexão entre a causa e sua conseqüência e pagam custos mais altos por isso, menos do que deveriam, contudo, e somente após a ocorrência do dano irreversível, cujas conseqüências continuam a contribuir para o aquecimento da atmosfera terrestre durante muitos anos. Outra característica, não separada da primeira, é a de ser nele comum a falácia da composição, pela qual as propriedades das partes constitutivas devem ser as mesmas do todo. Assim, muitos parecem acreditar, ou por conveniência fingem acreditar, que se as emissões de gases por uma única empresa, parte do todo econômico, são inofensivas, como de fato são, vistas globalmente, então as de todas as empresas em conjunto, ou seja, as emissões do todo, também o serão, conclusão falaciosa, é claro. Existe agora um quase consenso sobre a necessidade de se adotarem medidas urgentes. A questão não é mais do que fazer, mas de quando fazer. De acordo com projeções otimistas, o aquecimento global provocaria até o ano 2100 aumento de, no mínimo, 1,8º C na temperatura média do nosso planeta, sendo mais provável que seja de 3º C, levando a uma elevação entre 18 cm e 59 cm no nível do mar (no século XX a elevação foi de 17 cm), com todas as implicações negativas do fenômeno que podemos prever. Segundo Carlos Afonso Nobre, um dos maiores especialistas brasileiros em aquecimento global e membro do IPCC, não temos estudos específicos sobre os impactos das mudanças climáticas sobre o país: “Estamos muito atrasados, até mais que os nossos vizinhos, como Colômbia,Peru, Uruguai, Trinidad e Tobago. A Argentina, então, nem se fala”. A continuar tal ignorância, os efeitos destrutivos do aquecimento estarão conosco durante décadas.

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