Malighetti na AML



Jornal O Estado do Maranhão, 23/8/2009

Amanhã, dia 24, a Academia Maranhense de Letras dará posse na Cadeira No. 8 de seu Quadro de Correspondentes ao professor Roberto Malighetti. Ele será recebido pelo acadêmico Sebastião Moreira Duarte. Em outubro, teremos mais duas posses, mas no Quadro de Membros Efetivos. No dia 2, Joaquim Haickel passará a ocupar a Cadeira No. 37, anteriormente de Nascimento Morais Filho. No dia 9, teremos Ney Bello Filho tomando assento na Cadeira No. 40, antes ocupada pelo grande artística plástico maranhense Antônio Almeida. Serão, assim, três entre esta segunda-feira e aquela última data.
Alguns poderão estranhar uma solenidade como essa para assinalar a entrada de um correspondente na Academia, pois algum tempo há que não se vê evento como esse na Casa. As pessoas se acostumaram à suposição de tais membros não tomarem posse solenemente. Aliás, a maioria não tem conhecimento da existência desse quadro de acadêmicos.  Na Academia Maranhense ele é composto de 20 membros, metade, portanto, do número de componentes do quadro de efetivo.
No entanto, o Regimento Interno da Casa, em seu artigo 39, parágrafo único faculta a realização da solenidade, oferecendo ao empossando a possibilidade de escolha: "Se assim o desejarem, conforme comunicação ao Presidente, os eleitos para o Quadro de Membros Correspondentes poderão tomar posse em sessão solene, para o que serão observados os mesmos prazos e formalidades concernentes aos membros efetivos". Malighetti preferiu usar este dispositivo para dar-nos o prazer de sua presença entre nós e oferecer erudita conferência sob o tema Etnografia: Autoridade, Autorização, Autor.
Ele é professor de Antropologia Cultural da Universidade de Milão-Bicocca e realizou pesquisas de campo no Maranhão, concentrando sua atenção nas culturas de origem africanas. Estava trabalhando no Iêmen com beduínos e tinha, segundo entrevista dele ao Informe Palmares, interesse acadêmico em desenvolver uma escritura etnográfica, quando veio para o Brasil designado pelo governo italiano. Ele afirma que o que mais chamou sua atenção em Frechal foi a capacidade da comunidade de trabalhar em conjunto e de lutar contra a violência de um fazendeiro sem ajuda externa. Entidades como a Cáritas, o Centro de Cultura Negra e a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, ainda segundo essa entrevista, chegaram lá depois que os quilombolas já tinham criado uma associação de moradores para lutar contra o pretenso proprietário das terras onde viviam.
De sua obra fazem parte O filósofo e o confessor – hermenêutica em Clifford Geertz (Milão, 1991; Do tribal ao global (em coautoria com Ugo Fabietti e V. Matera (Milão, 2000); Antropologia aplicada (Milão, 2002). Como professor por breve período na Universidade Federal do Maranhão, ocupou-se com a Epistemologia das Ciências Sociais. Em 2007, publicou pelas Edições do Senado Federal, volume 81, O Quilombo do Frechal: identidade e trabalho de campo em uma comunidade brasileira de remanescentes de escravos. Esse trabalho resultou de pesquisa na Baixada Maranhense, mais precisamente em Guimarães, em uma comunidade de descendentes de escravos, Frechal, a primeira comunidade quilombola a ser legalmente reconhecida no Brasil. . Nas palavras de Ugo Fabietti: "O Quilombo do Frechal [o livro] não é apenas um estudo particularizado que se dedica a descobrir uma forma de identidade coletiva numa comunidade de quilombolas em luta contra um latifundiário, com o fim de ver reconhecidos seus direitos à terra. É também um livro que, já ao se apresentar, apresenta problemas  metodológicos  cruciais para o estatuto  científico das ciências antropológicas".
A entrada do professor Malighetti em um de nossos quadros, com seu prestígio intelectual no Brasil e em outros países, continua uma tradição da AML de ter entre seus correspondentes intelectuais que honram as melhores tradições culturais da Casa. Bem-vindo, professor Malighetti.


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